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Apagão na Construção Civil : Mito ou Realidade do Envelhecimento de Trabalhadores?

A indústria brasileira enfrenta um momento crítico de apagão na Construção Civil. Com o fenômeno de uma força de trabalho envelhecida, são muitas as questões que surgem quanto ao futuro do setor.  

Envelhecimento dos Trabalhadores na Construção Civil Brasileira

  A idade média dos trabalhadores em obras no Brasil vem aumentando nos últimos anos. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a idade média dos trabalhadores em obras no Brasil era de 37,4 anos em 2012. Em 2023, esse número subiu para 41,2 anos. Esse aumento pode ser explicado por diversos fatores, como:
  • Aumento da expectativa de vida:
     A expectativa de vida no Brasil vem aumentando nos últimos anos. Em 2012, a expectativa de vida era de 74,8 anos. Em 2023, esse número subiu para 77,3 anos. Isso significa que as pessoas estão vivendo mais tempo e, consequentemente, trabalhando por mais tempo.
  • Diminuição da natalidade:
     A taxa de natalidade no Brasil vem diminuindo nos últimos anos. Em 2012, a taxa de natalidade era de 2,0 filhos por mulher. Em 2023, esse número caiu para 1,7 filhos por mulher. Isso significa que há menos jovens no mercado de trabalho, o que contribui para o aumento da idade média dos trabalhadores.
  • Formalização do mercado de trabalho:
     O mercado de trabalho brasileiro vem se formalizando nos últimos anos. Isso significa que mais trabalhadores estão registrados em carteira, o que lhes dá acesso a direitos como aposentadoria e seguro-desemprego. Isso faz com que os trabalhadores permaneçam no mercado de trabalho por mais tempo.
 

Envelhecimento na Construção Civil: Impactos Práticos Desafios e Implicações

O aumento da idade média dos trabalhadores em obras no Brasil pode ter diversos impactos, como:
  • Aumento dos custos com saúde e segurança do trabalho:
     Trabalhadores mais velhos podem ter mais problemas de saúde, o que pode aumentar os custos com saúde e segurança do trabalho para as empresas.
  • Redução da produtividade:
     Trabalhadores mais velhos podem ter menos disposição física e mental para o trabalho, o que pode reduzir a produtividade das empresas.
  • Dificuldade em encontrar mão de obra qualificada:
     O aumento da idade média dos trabalhadores pode dificultar a encontrar mão de obra qualificada para o setor da construção civil.

Estratégias de Adaptação e Resiliência: Abordagens para Lidar com o Envelhecimento da Força de Trabalho

Para lidar com os desafios do envelhecimento da força de trabalho, as empresas do setor da construção civil podem tomar medidas como:
  • Investir em programas de saúde e segurança do trabalho:
     Isso pode ajudar a prevenir doenças e acidentes de trabalho, reduzindo os custos para as empresas.
  • Oferecer programas de treinamento e desenvolvimento profissional:
     Isso pode ajudar a manter os trabalhadores atualizados com as novas tecnologias e práticas de trabalho, aumentando a produtividade das empresas.
  • Adotar políticas de flexibilização do trabalho:
     Isso pode ajudar a atrair e reter trabalhadores mais velhos, que podem ter necessidades diferentes dos trabalhadores mais jovens.
 

Tecnologias Off-site e Desafios da Incorporação no Setor: Uma Análise Crítica

Nas obras, de forma prática, a falta de empreiteiros tem assustado as construtoras. Como exemplos recentes:
  • Uma grande construtora firma contrato de exclusividade com empreiteiro de execução de estruturas de concreto moldado in-loco, para suas obras, com receio em “ficar na mão” do mercado e preços descontrolados.
  • Uma outra, com problemas de prazos de execução de fachadas argamassadas, não consegue contratar empreiteiros segundo seu cronograma de necessidade, e fica sujeita ao mercado e a disponibilidade de agenda de terceiros.  
Não é nova a discussão da baixa produtividade setorial, bem como sua estabilização ou queda no Brasil. Não nos focaremos nisso neste artigo. Cada vez mais, menos profissionais se interessam pelo setor. O dueto trabalho intenso, com baixas remunerações afasta os mais jovens, e sem isto, não ocorre a renovação. A acentuada carência de mão de obra ocorre em todos os níveis, contextualizados em momentos de Mercado aquecido. A construção, atividade tradicionalmente empregadora de mão de obra desqualificada, cuja oferta tende a se reduzir em função dos seguintes aspectos: a) envelhecimento da população; b) redução da migração para regiões metropolitanas; c) concorrência por mão de obra com outros setores; d) busca por mão de obra qualificada na população.  Na cadeia, existem graves deficiências na formação de projetistas e gestores gerando o duplo desafio de melhorar a qualificação da mão de obra e reciclá-la para novas tecnologias.    “MMC” é um termo genérico, cunhado pelos ingleses, para uma variedade de métodos de construção que são geralmente novos, e muitas vezes têm um grupo significativo de componentes produzidos fora do canteiro de obras (componentes off-site).  As principais implicações do aumento do uso de MMC recaem: a) na necessidade de treinamentos para formação de novas competências da mão de obra no canteiro de obras; b) na redução de alguns serviços e, por conseguinte, de habilidades específicas da mão de obra; c) na intensificação de mão de obra mais mecanizada; d) no aumento de processos produtivos paralelos fora dos canteiros, em ambientes fabris; e) em maiores níveis de desenho assistido por computador (CAD).  

Os impactos e efeitos de tecnologias off-site

Os impactos e efeitos de tecnologias off-site são em diversas especialidades e ocupações e podem ser resumidos abaixo:  
Fonte: CBIC
Fonte: CBIC
  O principal desafio não é de acesso a tecnologias. De modo geral, novas tecnologias aparecem em grande quantidade no meio técnico, sobretudo porque, com a crise europeia, muitos fornecedores vislumbram o Brasil como o local ideal para focar sua atenção e buscar driblar a crise. Todos os dias algum fabricante estrangeiro oferece sua tecnologia a empresários brasileiros.  Porém, as inovações não são facilmente incorporadas ao sistema produtivo das empresas construtoras. Exigem desenvolvimentos internos, inclusive nas tecnologias de gestão, que por vezes são feitas por equipes de pesquisa e desenvolvimento (P&D) internas à empresa em parceria com os próprios fornecedores ou com apoio da academia, e outras vezes inexistem. Investir em capacitação profissional para que se possam adotar novas tecnologias de gestão e para realizar P&D dentro das empresas é um dos desafios a ser enfrentado ainda nesta década, para que se possa evoluir tecnologicamente.   

Estratégias Racionais para um Futuro Viável

  Considerando os desafios identificados, apresenta-se a seguir um breve resumo: 
  • Mudança de comportamento empresarial: é preciso ter um pensamento de produção industrial. Não é necessário que o produto edifício seja sempre igual, repetitivo; é preciso que os processos para a sua produção o sejam. A padronização e os cuidados com o processo de produção devem se sobrepor à padronização de produtos. Desenvolver sistemas e adotar tecnologias de gestão empresarial que visem à industrialização da produção é um dos desafios para a cadeia produtiva. 
  • Desenvolvimento de memória tecnológica: para que erros do passado não voltem a se repetir, é preciso aprender constantemente, registrar o aprendizado e evoluir no conhecimento. Investir na capacitação dos recursos humanos para que dominem o processo de produção do edifício é fundamental. 
  • Valorização do trabalho na indústria da Construção: significa valorização da capacitação dos recursos humanos em todos os níveis. A capacitação e certificação profissional deve ser a mola propulsora do desenvolvimento daqueles que atuam na Construção. 
  • A coordenação modular (normas técnicas): precisa ser efetivamente implementada e passar a fazer parte dos projetos desde a sua concepção. A ausência de coordenação modular dificulta a intercambiabilidade de componentes; resulta em maiores perdas de componentes – sobretudo aqueles de grandes dimensões –; diminui a produtividade, dentre outros efeitos. Um edifício coordenado modularmente (vide alvenaria estrutural) apresenta significativas vantagens ao empreendedor e aos fornecedores (materiais, componentes e mão de obra). 
  • Sistemas construtivos: precisam ser desenvolvidos como um todo, particularmente as interfaces entre diferentes subsistemas. Por exemplo, não se pode apenas desenvolver os vedos e não pensar no fácil acoplamento das esquadrias e dos sistemas prediais, na rápida execução dos revestimentos e no desempenho do conjunto, incluindo as exigências de manutenção ao longo da sua vida útil. • Desenvolvimento de políticas para qualificação de projetistas: a fase de concepção do empreendimento define o seu potencial de racionalização e industrialização. 
  • Desenvolvimento de políticas para qualificação de mão de obra gerencial e de produção: o melhor projeto pode se tornar o pior empreendimento se não for bem gerido e construído. É preciso que haja comprometimento, engajamento e isso somente é possível com valorização profissional. 
  • Desenvolvimento tecnológico completo de sistemas com elevado potencial de industrialização: foco nas juntas entre elementos pré-fabricados (pesados ou leves); revestimentos de fácil acoplamento às superfícies a serem revestidas; sistemas leves de fachada de edifícios, dentre outros.
Observando-se as empresas e o grau de importância e gargalos identificados, temos:
Fonte: CBIC
Fonte: CBIC
 

Conclusão: Um Futuro Inovador e Sustentável na Construção Civil

A construção civil enfrenta desafios significativos diante do envelhecimento de sua força de trabalho e da necessidade de incorporar novas tecnologias. O aumento da idade média dos trabalhadores traz consigo impactos tangíveis, desde questões de saúde e segurança até dificuldades na manutenção da produtividade e na atração de mão de obra qualificada. Diante desses desafios, é crucial que as empresas adotem estratégias proativas, investindo em programas de saúde e segurança, oferecendo oportunidades de treinamento e desenvolvimento profissional e adotando políticas de flexibilização do trabalho. A incorporação de tecnologias off-site apresenta potenciais vantagens, mas requer um esforço coordenado para superar os obstáculos e garantir uma transição suave. Em última análise, a construção civil do futuro exigirá uma abordagem inovadora e colaborativa, onde a valorização do trabalho humano e a adoção de práticas sustentáveis sejam fundamentais para o sucesso do setor. O setor enfrenta uma nova era, onde a criatividade e a ousadia são essenciais para superar os desafios e construir um futuro mais resiliente e eficiente. Bibliografia FIRJAN. Desafios da Construção Civil 2020-2030. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://www.firjan.com.br. SENAI Nacional. Site Senai Nacional. Disponível em: https://www.sp.senai.br/ CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Disponível em: https://www.cbic.org.br/
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